Aviso de gatilho: Esse texto fala sobre a perda de um pet, se isso te aflige, peço que aguarde a próxima publicação.
Todos os dias a gente arruma um cantinho vago e preenche com um vazio. Um espaço que sobra num canto da sala, ao lado da porta do quarto que nunca tranca e bate com o vento. Debaixo da mesa de jantar (e almoçar, e tomar o café, e lanchar).

A gente preenche a vida com ausências. Só dessa forma vamos ter o que lamentar quando alguém nos fizer falta. E quando isso acontece de forma repentina, sem avisar, a gente só pensa messmo nas coissas que não fizemos, em todos os erros e mal entendidos.
Nunca pensamos nos acertos porque é fácil demais esquecer o que fizemos de bom. Fico com esse sentimento girando aqui, pensando na parte que foi roubada de mim dias atrás. A rotina que desapareceu e me deixou sem norte, logo eu que sou péssimo para me organizar.
Perdi meu companheiro de longas datas, aquele que me fazia companhia em meu trabalho remorto. Que me fazia acordar, sair de casa, cuidar, dar e receber carinho. As vezess só recebia mordidas, mas eu sei que era amor.
Meu cachorrinho mais velho se foi e o sentimento que temos aqui em casa é de que alguém entrou, na surdina, e o raptou. Ele não está mais aqui e não vai voltar.
Bom, de certa forma ele voltou. Numa caixinha linda que não tive coragem ainda de olhar. Subi o elevador com uma encomenda em uma sacola de papelão, leve. Ele era tão pesadinho e tão lindo.
Não posso explicar a dor que estamos sentindo aqui em casa e nem quero.
Faço um esforço diário para lembrar que recentemente fizemos uma viagem, todos juntos. Fomos para Itacimirim, aqui pertinho de Salvador. Algumos um espaço de frente para a praia. Ele estava tão feliz e sereno. Quero pensar que ele está morando nesse tempo com a gente para sempre até nos reencontrarmos
Não fossse ele eu não teria sobrevivido a pandemia trabalhando sozinho em casa. Ele sempre vinha pedir pra ficar no meu colo. Ou deitava aqui do lado de onde estou. Eu fazia carinho com meu pé direito até perder a noção do tempo. Até ele me lembrar que era hora de almoçar.
O foda é que todas nossas ausências agora gritam e apertam aqui nessa casa vazia. Até o cachorrinho mais novo perdeu um pouco da sua alegria, do seu entusiasmo exarcebado. Tem momentos que ele deita na porta, esperando talvez ele retornar.
Ele ainda não notou que ele já voltou, numa caixinha dentro de uma sacola de papelão. Não vou avisar. Vou deixar ele esquecer e criar novas memórias. Ele ainda é novo, vai passar, vai esquecer.
Eu e minha esposa não. A gente ainda chora todos os dias. Ela com lágrimas, eu calado. Parado num canto da casa sem lembrar o que me levou até ali. O que era mesmo que eu vim buscar?
Quase sempre é uma lembrança. Vou guardando todas. Panos velhos e fedidos, coleira, pratinho de plástico vagabundo e uma galinha de borracha sem uma perna e com a barriga e o bumbum furados.
Lembranças e espaços vazios. É tudo o que restou nesse lar.
Tito tinha quase 12 anos e meio. Foi-se embora muito cedo (Chihuhuas costumam chegar aos 14, 16, alguns mais sortudos até quase 20 anos). Ele sobreviveu a duas paradas cardíacas (a segunda com ressureição). Mas não a terceira. Lutou bravamente por quase uma semana porque ele era bem forte.
Espero que ele esteja mordendo gente lá em cima.
Chorei, não vou negar. Mas também gostei muito de saber um pouco mais dele. Sinto muito, e obrigada por compartilhar algo tão bonito
Pegou bem aqui no coração